quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Alzheimer


Outro dia, um dia desses.... Começa outra vez... Confusão e euforia triste.

Sinta medo de viver seu passado. O gueto, um padre, seu juiz... Calor e fogo.

Seria cíclico? Ou reação em cadeia? Será que essa perturbação oscilante de decassílabas fônicas se exprime no contraste entre alegria e pavor da escuridão?

Como "se" chamava eu naquela época? Alzheimer, sou velho para lembrar, está na palma, mas deixa pra lá, estou cego demais para ler o bilhete entre folhas de um livro antigo. Livro esse que guarda o segredo de Victória, cheira a pêra.

Lindo! Estou sorrindo, aqui o ar é fresco, estou morto, me vejo de longe, sentado em um parapeito, caminho feliz. Será que sou frio com dizem? Investigo-me, converso com meu inconsciente, o conjunto dos processos mentais que se desenvolvem sem intervenção da consciência, enlouqueço, meus cabelos caem de estresse... Não há frio, nem calor, nem eu..." socorro! Alguém me dê um coração..." Amor platônico, conceito de abstrato, como Camões.

Simplesmente desapareço, de mim, de você, de nós, se nem sequer saber quem eu sou agora.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Onde estará Pedro?


Antes da matéria... O divino dom inatingível de ser capaz. Com paciência me retrato a mim. Nada de muito, somente esperar, ativamente.

Pequena cidade, morando dentro de uma nuvem. Não ouço mais sirenes, as paredes não são quentes. Digo-lhes, frio! Calor aqui,vem de outra forma, digo-lhes, poros. O meu que é, confina se em si mesmo. Mais um pulmão, peste cinzenta recolhido em busca de cura.
A rua. Um menino... Bicicleta azul... Antes um barco de papel, tudo já afirmado. Os três meses ou menos, sabido. Elementais seres. Na beira do mar, rosinha,vento, vestido de chita, espera Pedro, o menino da bicicleta azul. Nada pode fazer a num ser esperar.
Foi ele, a procura de respeito. Não achou nada sensível, mas bem soube escolher. Trouxe esmola, um viés de felicidades e uma capa de ilusão. Fez figuras, transformou-se em armaduras, teve estórias para esconder.
O tal pedro, voltou antes por acaso, um amor mal acabado e um deus sol como um sinal, insight espiritual... Hoje chora, vendo a vida que melhora e vai mudando devagar. Vê-se longe, uma casa, um menino, uma chita pendurada no varal.

E antes da matéria, o espirito, Santo divino que é meu! Onde estará Pedro?

terça-feira, 22 de março de 2011

Uma vez um AMIGO muito querido me disse...

I
Antes de partir pergunta
a folha que precisa no teu banho
e três goles antes de entornar.

Antes de partir pede
a bença àquela árvore
onde tu gostava de brincar.

Não te esquece das contas.
Entrega quanto puder
a quem possa lhe ajudar.

Antes de chegar pede
licença ao caminho por onde
e ao dono da mata, saravá.

Antes de chegar anda
por ali tudo, até saber como.
Escuta teus passos, pisa devagar.

Então diz (a quem já sabe)
aquilo que te traz e atende
aos dizeres que o vento soprar.

.

II
Se demandarem contigo
respira, pensa no coro cantar.
Deixa o orgulho fora da ingoma

que tudo lhe há de convir
e tu será bem lembrado
debaixo das árvores de lá.

As tuas palavras, nenhuma das minhas, só um breve e firme obrigado, como um aperto de mão emocionado de olho no olho.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Amnésia


Vi um filme. Silêncio. Que filme? Não sei, não sou desses... Tenho medo de não saber mais ver filmes.

Agora é já. Em dado momento, existe um outro lugar, desejo meu. As metas: Ouvir um sino de pescoço de bode, seguir adiante. E as ogivas de felicidade? Não sei mais dessas, talvez no fim do ano, será um inferno astral? Não! O certo é uma ausência que vira busca, por isso vou, porque preciso.

Chega a ser clichê, mas abro os olhos, os mesmos olhos que teimam em ser objetivas, poéticas lentes, olho a volta, a única coisa que sei é que não lembro de nada, perdi a memória, paro e sinto. Baixa estatura, mulher ruiva. Estranho, me olha como me conhecesse e me da bom dia. Tem filhos, dois. Opa! Não são dela. Existe outra mulher, uns riscos no ombro, eles a chamam de mamãe. Linda mãe por sinal, ela tem um cigarro, o leva a boca lentamente, suave nicotina, traga e me olha com um sorriso escondido na iris, fica claro que somos íntimos o que me deixa mais confuso. Em um tablado, uma cozinha, me pergunto, esse lugar é de quem? Por que estou deitado?

É difícil se entender nos lugares, nas realidades, que são suas por estar ali, mas... Amnésia, você não lembra. Você vive isso? Quando vê, aconteceu.

Abro os olhos novamente, estou em casa. Porque tantas imagens na estante? Não são todas minhas, as conheço exceto uma, um objeto, um pote de cola branca, com um nome bíblico e uma sigla JIII, que talvez a 20 anos atrás conhecesse melhor.

Sala, o balde que guarda a chuva em si, ampara a goteira e a cada gota, ampulheta. O tempo. Olho pra a porta de saída e a seu lado estrategicamente posicionadas as duas coisas mais importantes, minha mala e pendurada na parede descascada, minha cartola. A chuva não para, as gotas... A cartola não esta mais na parede e comigo levo tudo que não lembro. Tudo que não sei quem sou.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Olho-Cine


"...menos que nunca a simples reprodução da realidade consegue dizer algo sobre a realidade. [...]

A verdadeira realidade transformou-se na realidade funcional. " Bertolt Brecht

OLHE, sinta com o perceber o que esta a sua volta. Qual, de infinitas, realidades você se adéqua? Qual o seu parâmetro primeiro a perceber? Uma metarelidade, uma realidade social? Se diga! Que realidades formando uma que é a sua?

Se Vertov idealizou o Cine-Olho como o entendedor das verdades que somente e fielmente é vista pelas lentes. Onde entra as massas que vivem de mentiras, verdades outras. Mudemos então, Olho-Cine, façamos o papel kino-pravda em si. Lutemos por um só direito, o de entendermos qualquer realidade por dentre nossos olhos de cinema, a liberdade de ver-sentir.

Entendamos a percepção ocular como individual, o Olho-Cine é de cada um, sendo normais e aceitáveis as relações interrealidades. Seja qual for o parâmetro real adotado. Saibamos reconhecer as nossas saídas reais, afinal qual a sua realidade?

Lutemos sim, por uma aceitação em essência, do anarcoprocesso cinematográfico.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Pão, maionese e rúcula.


Hoje, dia 27 de dezembro, estou em Lumiar distrito de Nova Friburgo, estou sozinho, o que já é de costume ultimamente. Por ter passado um fim de semana tenso, afinal foi natal, resolvi correr. Embora estivesse chovendo aproveitei o momento de fraqueza dos céus e fui me alongar para este feito, o que não durou nem dois minutos. Estava sem camisa uma bermuda da feirinha e tênis, sabia que faltava algo, foi quando olhei para os meus óculos do Godard (escreva Godard no Google) e pensei: É o que faltava, me protege da possível chuva e da claridade do dia.

Corri em direção ao centro de Lumiar, até um pouco rápido demais para quem não estava aquecido. Desci o asfalto e cheguei ao paralelepípedo, vulgo “paralelo” estava compenetrado e com o pensamento focado a respiração e na saúde, mas com os charmosos óculos do Godard, não tinha corrida que não se rendesse a uma essência cinematográfica. Passei por trás da cidade e fui até a estrada Mury – Lumiar, com a intenção de fazer a “big rosca” indo para Benfica e depois estrada de são Pedro da serra, que é um costume de uns amigos daqui, onde o objetivo é andar e voltar ao mesmo lugar, só para bater papo e observar a natureza. Na entrada pensei que seria melhor me manter no asfalto e não no barro, então segui direto e não entrei, peguei a estrada serra – mar e fui sentido encontros dos rios.

Quando estava por passar no poço da pedra riscada, aquele que o proprietário fechou, decidi por voltar. Como fiz a volta em frente ao cemitério sem parar de correr, de um jeito bem particular, por não saber o certo, cumprimentei respeitosamente seu João caveira e voltei para o centro de Lumiar. A cada carro que passava por mim, embora exausto, mantinha a pose, afinal estava usando meus charmosos óculos do Godard e não queria decepcionar aqueles observadores.

Pronto, cheguei a Lumiar, como estava morto e desidratado fui para a padaria que era o único estabelecimento aberto, achei um roubo cobrar R$ 2,50 em 1,5L de água, mas comprei e com toda a prepotência de quem é saudável, levantei os óculos do Godard a cabeça e bebi da água natural, exaltando em mim um ar de superioridade por estar bebendo água depois de ter feito exercício.

Sentado nas escadas em frente à praça, descansei, sentindo o suor escorrer e de goladas em goladas bebi aproximadamente 1,2L. Ao reparar que a chuva cairia logo, segui meu caminho para casa, sabendo de onde ela viria e que certamente me alcançaria. Foi quando, ainda nos paralelos idealizei um plano, seria um plano fechado , quando as primeiras gotas caíssem em meu rosto seco, desceria os charmosos óculos que se molhariam escondendo e protegendo meus olhos. Perguntei-me, onde está meu caderno de anotações? Será que deveria ter um?

Foi exatamente o que fiz. Quando as primeiras e calmas gotas começaram a cair, senti frio por instantes, meu corpo se arrepiou em seguida me adaptei a temperatura. Caminhando lentamente, confortável por estar tomando aquele banho, lá eu estava com meus tênis, minha bermuda da feirinha, meus charmosos e agora embaçados óculos do Godard e minha garrafa d água que agora pesava mais no estomago do que nas mãos. Era um blazer total, um sentimento de euforia calma, é como se estivesse num filme, ouvia música, sentia a textura da película no meu visionar, enquanto caminhava pelo asfalto depois dos paralelos tudo isso acontecia; as pessoas com seus exuberantes guarda-chuvas transitavam com uma pressa que ali, não me contaminaria, estava em êxtase.

Aquele estado se manteve, mas cheguei ao topo da ladeira, foi como acordar de um sonho bom, a vitrola parou de tocar, senti uma contração visceral, foi súbito. O sonho acabou e eu só me perguntava: Será que vai dar tempo? Lembrei de uns vídeos de internet onde acontece o mesmo com algumas pessoas; quando percebi que não daria tempo, comecei a correr, e se antes corria por prazer agora era por desespero. Com os óculos embaçados não enxergava muito, a todo o momento pensava na frase “—Não desiste soldado, não desiste!”

Entrei na rua onde moro, não enxergava nada, o filme acabara ali, tirei os charmosos óculos, na situação em que me encontrava, não mais os queria. Corri o máximo que pude, pegando um atalho pela mata. Com a mesma frase na cabeça subi a rua, pensando: No mínimo, que seja dentro de casa.

Abri o portão, faltava a porta de casa. Chegando à varanda instintivamente, como não precisaria dela naquele momento, minha mão soltou a garrafa d água, peguei a chave no lugar secreto e em um desespero decisivo entrei em casa chegando ao meu objetivo, o banheiro. Estava totalmente ofegante, a endorfina liberada pelo correr de desespero e o alívio de ter me lançado ao vaso me deixaram sim em êxtase. Estando em paz e em casa sentado no meu banheiro, saquei os charmosos óculos do Godard de minha cabeça, pendurei – os na maçaneta da porta e olhando para os óculos molhado de chuva e suor, percebi, o filme acabara aqui.