São 10 da manhã de um domingo esquisito. Uma sensação de nada, nem vazio nem cheio, nem bom ou ruim, será que é dormência? Ou uma boa de uma falta de sensação? Aos poucos, a casa feliz que incomodara durante tempos a vizinhança, vai ficando vazia. E a cada peça que não está mais nesse velho tabuleiro,a cada peça que não esbarrarei mais nesses corredores, me deixará ouvir o que nunca ouvira, incluindo alguns de meus silêncios. Daqui uns tempos, uns dias, gritarão ecos, gritos, ruídos, gemidos e passos que por aqui não estarão mais. Não estarão! Não quero sentir medo. Não quero viver de ecos, mas tenho medo sim. É paralisante ter que desconstruir em fração de segundos a disposição de toda a minha mobília. Replanejar tantos espaços vazios. Sem conseguir enxergar uma mobília que se adeque que tenha a verdadeira alma daqui. Que eu ame, assim como a mobília que era minha, cada milímetro de sua imperfeição. É assustador olhar pros lados, ver o vazio e sentir solidão. Derreter sentimentos meus, meus, sensações minhas, sonhos meus! Ter que pensar em sentar no chão de uma nova casa. Respirar fundo achando que devo me reconstruir sem ter comigo minha trouxinha das coisas mais importantes da vida, de coisas mais importantes da minha vida. O mais violento de tudo o que pode me abraçar, é vagar por esses cômodos sem mobílias, pisar nesse chão tão vazio e encontrar com a maioria de meus sonhos se desfazendo em câmera lenta de uma forma desleal, crua e não ter vontade alguma de dormir sozinho no chão.
Ana notaroberto
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