quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Misture: V-o-D-k-A & Cointreau



Ismail Xavier, quando falou em seu livro (O discurso cinematográfico) da relação entre a técnica e o conceito de Não - montagem de bazin, pensou assim:

"Quando o fotógrafo, além de apontar a câmera numa certa direção - o que me fornece um determinado campo de visão (operação de enquadramento), devo regular a máquina de modo a obter uma imagem nítida do objeto que me interessa. Isso corresponde à focalização, ou colocação do objeto “em foco”. Tudo o que aparece sem contorno definidos na fotografia obtida é dito “ fora de foco”. A distância entre a câmera e o objeto de meu interesse é o fator básico que comanda a regulagem. Acontece que, quando coloco em foco um objeto localizado a uma certa distância, outros objetos poderão estar presentes no campo de visão da câmera e localizados a distâncias diferentes. O grau de nitidez que os outros objetos vão aparecer depende de uma série de fatores. Num caso extremo, só estará em foco o objeto de meu interesse e aquilo que estiver à mesma distância que ele em relação à câmera. Os outros objetos estarão fora de foco ( sem nitidez). Nesse caso digo que a profundidade de campo é nula. No outro caso extremo, não somente o objeto de meu interesse, mas todos os outros elementos localizados a diferentes distâncias estarão em foco. Aqui, digo que tenho foco infinito (a profundidade de campo é máxima)...

Este fenômeno de profundidade de campo tem sua importância dramática. Tanto em fotografia quanto no cinema ele será responsável por determinar efeitos. A oposição nitidez/não nitidez, que marca uma série de objetos co-presentes numa imagem, traz sua carga semântica. Se todos estão em foco tenho uma imagem diferente da que eu teria se apenas um ou alguns estivessem. Na narração cinematográfica, a manipulação da profundidade de campo é extremamente funcional (seleciona e informa, conota, segrega, reúne, ajuda a organizar o espaço). E ela tem conseqüência no nível da decupagem. Ao mostrar um fato, muitas vezes sou obrigado a usar dois planos e fazer uso da montagem justamente porque é impossível mostrar nitidamente os dois elementos de interesse num mesmo plano simultaneamente. De modo geral, quanto maior a profundidade de campo, maior é a possibilidade de concentrar informações num único plano.

Bazin vai apontar, primeiro, a evolução técnica dos aparelhos e da película sensível, graças aos quais a filmagem tornou – se mais fácil e , graças aos quais tornou – se possível o recurso à profundidade de campo. Ele vai dizer que temos aí um exemplo de como a técnica tem seus reflexos nítidos no nível da linguagem.”

Então eu me pergunto se a disputa entre montagem/ não - montagem deu certo. Claro! O ego humano tem esse poder, as diferenças conceituais são importantes. Valemos-nos dessa "corrida armamentícia" e tecnológica. Somos resultado dessas guerras, passado esse.

Ah! A contemporaneidade, hibridismo conceitual, multidiciplinaridade, deliberação coletiva, autogestão, democratização do saber.

Precisamos dessa miscigenação de idéias e ideais.

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